A Incredulidade (Marcos 6: 1:13)

Vemos a incredulidade dos nazarenos.

Vamos considerar três situações: portas fechadas pela incredulidade, portas abertas pela proclamação do evangelho e portas fechadas pelo drama de uma consciência culpada. Portas fechadas pela incredulidade (Mc 6.1-6)J. R. Thompson fala sobre quatro fatos dignos de observação com respeito à incredulidade do povo de Nazaré: 482A inescusabilidade da incredulidade. Nesse tempo, Jesus já havia se manifestado plenamente ao mundo e havia operado muitos milagres em Cafarnaum, a trinta quilômetros de Nazaré.

A causa da incredulidade. O povo tornou-se incrédulo por causa da origem de Jesus. Viam-no apenas como o carpinteiro, filho de Maria, cujos irmãos e irmãs eles conheciam. Além do mais, Jesus não tinha estudado nas escolas rabínicas e eles não podiam explicar seu conhecimento nem seu poder. A reprovação da incredulidade. Jesus disse que um profeta não tem honra em sua própria terra. Seus irmãos não creram nele. Sua cidade não creu nele. Os líderes religiosos não creram nele. A familiaridade, em vez de gerar fé, produziu preconceito e incredulidade.A conseqüência da incredulidade. Jesus ficou admirado da incredulidade deles e ali não realizou nenhum milagre, em vez disso, deixou a cidade por causa da incredulidade. Enfermos deixaram de ser curados e pecadores deixaram de ser perdoados.Vejamos alguns pontos de destaque nesse texto: Em primeiro lugar, Jesus oferece uma segunda chance à cidade de Nazaré. Jesus já havia sido expulso da sinagoga de Nazaré no começo do seu ministério (Lc 4.16-30). Naquela ocasião quiseram matá-lo, então, Jesus mudou-se para Cafarnaum. Agora, Jesus vai outra vez a Nazaré, dando ao povo uma nova oportunidade.

Nazaré era o povo mais privilegiado do mundo, pois ali o Filho de Deus havia passado sua infância e juventude, vendo os nazarenos muito de perto a “[…] glória de Deus, na face de Cristo

(2Co 4.6).483 Por trinta anos, Jesus andou pelas ruas de Nazaré e o povo contemplou sua vida irrepreensível, mas quando lhes anunciou o Evangelho, eles rejeitaram tanto a mensagem quanto o mensageiro.

Em segundo lugar, o perigo da familiaridade com o sagrado. A familiaridade com Jesus produziu preconceito e não fé. Nada é mais perigoso para a alma do que se acostumar com o sagrado. A origem e a profissão de Jesus foram obstáculos para os seus compatrícios. William Barclay diz que, às vezes, estamos demasiadamente próximos das pessoas para ver a sua grandeza.484 Eles pensaram que o conheciam, mas seus olhos estavam cegos pela incredulidade. Egidio Gioia diz que na religião a familiaridade gera o desprezo por causa da inveja.

485Em terceiro lugar, o perigo do conhecimento separado da fé. O povo de Nazaré reconhecia que Jesus fazia coisas extraordinárias e tinha uma sabedoria sobre-humana. Eles fizeram três perguntas: donde vêm a Ele estas coisas? Que sabedoria é esta que lhe é dada? E como se fazem tais maravilhas por suas mãos? Eles tinham a cabeça cheia de perguntas e o coração vazio de fé. Porque eles não puderam explicá-lo, eles o rejeitaram.486 Eles levantaram muros para se defenderem do Espírito Santo.487 O contraste entre o humilde carpinteiro e o profeta sobrenatural foi muito grande para eles compreenderem. Então eles escolheram a descrença, uma escolha que deixou Jesus admirado (6.6).

488Em quarto lugar, a incredulidade fecha as portas da oportunidade para Nazaré. Jesus não permaneceu na cidade de Nazaré. Ele foi adiante. Ele não insistiu em arrombar a porta. Nazaré perdeu o tempo da sua oportunidade. Realizar milagres em Nazaré poderia não ter nenhum valor porque o povo não aceitou a sua mensagem nem creu que Ele vinha de Deus. Portanto, Jesus seguiu adiante, procurando aqueles que pudessem responder aos seus milagres e à sua mensagem.489 Jesus deixou Nazaré pela segunda vez, e não há menção de que tenha voltado lá. A maioria das pessoas pensa que tem ilimitadas oportunidades para crer, mas isso é ledo engano.

490Em quinto lugar, a incredulidade de Nazaré fecha as portas para os milagres de Jesus. Quão terrivelmente desastroso é o pecado da incredulidade. A incredulidade rouba do povo as maiores bênçãos. Jesus não pôde fazer em Nazaré nenhum milagre. O que significa este “Jesus não pôde?” Ele não podia querer, nessas circunstâncias. Ele também não deveria. Pois onde se rejeita o doador, a dádiva é sem sentido, talvez até prejudicial. Jesus não deveria, e por isso também não queria. Neste sentido não poderia.491 Como um princípio geral o poder segue a fé. Na maioria das vezes Jesus operou maravilhas em resposta e em cooperação com a fé.492Certamente isso não significa limitação do poder de Jesus, pois ninguém pode limitá-lo. Jesus não estava disposto a fazer milagres onde as pessoas o rejeitavam por preconceito e incredulidade. Cranfield diz que na ausência da fé Jesus não poderia fazer obras poderosas, segundo o propósito de seu ministério, pois operar milagres onde a fé está ausente, na maioria dos casos, seria meramente agravar a culpa dos homens e endurecer seus corações contra Deus.

493A incredulidade foi o mais velho pecado no mundo. Ela começou no Jardim do Éden, onde Eva creu nas promessas do diabo, em vez de crer na Palavra de Deus. A incredulidade traz morte ao mundo.

A incredulidade manteve Israel afastado da terra prometida por quarenta anos. A incredulidade é o pecado que especialmente enche o inferno. “Quem, porém, não crer será condenado” (16.16). A incredulidade é o mais tolo e inconseqüente dos pecados, pois leva as pessoas a recusarem a mais clara evidência, a fechar os olhos ao mais límpido testemunho, e ainda crer em enganadoras mentiras. Pior de tudo, a incredulidade é o pecado mais  comum no mundo. Milhões são culpados desse pecado por todos os lados.494

Portas abertas para a salvação.

Quando uma porta se fecha, Deus abre outras. Cinco fatos são dignos de destaque:Em primeiro lugar, Jesus amplia seu ministério comissionando os apóstolos. Jesus não chamou os apóstolos apenas para estarem com Ele, mas também para enviá-los a pregar e a expelir demônios (3.14-21). Agora, que já estão treinados, eles são enviados. Eles vão realizar seu trabalho em nome de Jesus, com a autoridade de Jesus, levando a mensagem de Jesus, como uma extensão da sua própria missão. Quem receber um desses mensageiros recebe o próprio Jesus (Mt 10.40).

Em segundo lugar, Jesus deu aos apóstolos a mensagem. Quando os apóstolos saíram a pregar aos homens, não criaram a mensagem; levaram a mensagem. Não levaram aos homens as suas opiniões, mas a verdade de Deus.495 O conteúdo da mensagem focava em três áreas distintas:Eles pregaram arrependimento. A mensagem do evangelho começa com o arrependimento.

Arrepender-se significa mudar de mente e logo adaptar a ação a essa mudança. O arrependimento não é lamentar-se sentimentalmente; é algo revolucionário; por isso são poucos os que se arrependem.496 Devemos chamar as pessoas ao arrependimento se quisermos seguir as pegadas dos apóstolos. Nada menos do que isso deve ser exigido. É impossível alguém entrar no Reino dos Céus sem passar pela porta do arrependimento. John Charles Ryle diz que não há pessoas impenitentes no Reino dos Céus. Todos os que entram lá sentem, choram e lamentam a sua triste condição espiritual. Eles curaram os enfermos ungindo-os com óleo. Os apóstolos pregaram aos ouvidos e aos olhos. Falaram e fizeram. Proclamaram e demonstraram. Eles tinham palavra e poder. A salvação é uma bênção que se estende ao homem integral, ao corpo e a alma. Os apóstolos ungiam os enfermos com óleo. O óleo era usado como um cosmético, remédio e símbolo espiritual. William Hendriksen entende que os discípulos usaram o óleo aqui não como remédio ou cosmético, mas como símbolo da presença, da graça e do poder do Espírito Santo.497 Nessa mesma linha de pensamento, R. A. Cole diz que o óleo é um símbolo bíblico da presença do Espírito Santo, e, assim, a própria unção é uma “parábola encenada” da  cura divina.498

Lenski é da mesma opinião e diz: “As curas sempre foram milagrosas e instantâneas –o óleo de oliva nunca opera dessa maneira”.499Eles expulsaram demônios. A libertação faz parte do evangelho. O Messias veio para libertar os cativos. Ele se manifestou para libertar os oprimidos do diabo e desfazer suas obras. O reinado de Deus não estava penetrando num vácuo de poder. Adolf Pohl diz que todo missionário que quer “conquistar” pessoas para Deus precisa dominar o “espaço aéreo” sobre a fortaleza (Ef 6.12; Rm 15.19; 2Co 10.4-6).

500Em terceiro lugar, Jesus deu aos apóstolos a metodologia. As atitudes e ações dos apóstolos deveriam reforçar a mensagem que eles iriam proclamar.501 Jesus ensinou alguns aspectos metodológicos importantes:Os apóstolos foram enviados de dois a dois. Isso fala de mútua cooperação, mútuo encorajamento, mútuo ensino e também de credibilidade do testemunho. A Bíblia ensina que é melhor serem dois do que um (Ec 4.9) e é pelo testemunho de duas pessoas que toda causa se resolve (Dt 17.6; 19.15; 2Co 13.1).

Os apóstolos deveriam confiar no provedor e não na provisão. Eles não deveriam levar túnica extra, alforje nem dinheiro. Deveriam confiar na provisão divina enquanto faziam a obra. Jesus estava lhes mostrando que o trabalhador é digno do seu salário. Jesus queria que eles fossem adequadamente supridos, mas não a ponto de cessarem de viver pela fé.

502Jesus alerta sobre o perigo da ostentação. Os mensageiros não deveriam ser temidos nem invejados. Eles não deveriam fazer da obra de Deus uma fonte de lucro.Os apóstolos deveriam ser sensíveis à cultura do povo. Deveriam comer o que se colocava na mesa e não deveriam ficar mudando de casa, enquanto permaneciam numa cidade. A hospitalidade era um dever sagrado no Oriente.503 Da hospitalidade faziam parte saudação, lavar os pés, oferecer comida, proteger e acompanhar na despedida.504 Os pregadores não podem violentar a cultura do povo ao pregar a eles a Palavra de Deus. O Evangelho deve ser anunciado dentro do contexto cultural de cada povo.

Em quarto lugar, Jesus ensinou que se deve aproveitar as portas abertas e não forçar as portas fechadas. Onde houvesse rejeição, os apóstolos não deveriam permanecer, ao contrário, deveriam seguir adiante. Era preciso buscar portas abertas. Paulo orou por portas abertas e onde elas se abriam permanecia pregando, mas onde elas se fechavam, ele ia adiante. O critério do investimento era o vislumbre de portas abertas.

Em quinto lugar, Jesus alertou sobre o perigo de rejeitar o evangelho.Os apóstolos deveriam sacudir o pó de suas sandálias e considerar aquele território pagão. William Hendriksen diz que o que Jesus está dizendo, nesse texto, é que qualquer lugar, quer seja uma casa, vila ou cidade, que recuse aceitar o evangelho, deve ser considerado impuro, como se fosse um solo pagão.505 Não há salvação fora do evangelho. Não há salvação, onde a Palavra de Deus é rejeitada.

Deus abençoe você.

Referências:

483 TRENCHARD, Ernesto, Una Exposición del Evangelio según Marcos, 1971: p. 72.484 BARCLAY, William, Marcos, 1974: p. 154.485 GIOIA, Egidio, Notas e Comentários à Harmonia dos Evangelhos, 1969: p. 164.486 WIERSBE, Warren W., Be Diligent, 1987: p. 59.488 BARTON, Bruce B., et all. Life Application Bible Commentary. Mark, 1998: p. 158.489 BARTON, Bruce B., et all. Life Application Bible Commentary. Mark, 1994: p. 157.490 BARTON, Bruce B., et all. Life Application Bible Commentary. Mark, 1
487 POHL, Adolf, Evangelho de Marcos, 1998: p. 196.491 POHL, Adolf, Evangelho de Marcos, 1998: p. 197.492 BARTON, Bruce B., et all. Life Application Bible Commentary. Mark, 1994: p. 157.493 CRANFIELD, C.E.B., Gospel according to St. Mark. Cambridge University Press, 1977: p.494 RYLE, John Charles, Mark, 1993: p. 81.495 BARCLAY, William, Marcos, 1974: p. 158.496 BARCLAY, William, Marcos, 1974: p. 159.498 COLE, R. A., The Gospel According to St. Mark. Grand Rapids, Michigan, 1961: p. 109.499 LENSKI, R.C.H., Interpretation of St. Mark´s Gospel, Columbus, 1934: p. 155.500 POHL, Adolf, Evangelho de Marcos, 1998: p. 200.501 MULHOLLAND, Dewey M., Marcos: Introdução e Comentário, 2005: p. 103.497 HENDRIKSEN, William, Marcos, 2003: p. 298.502 WIERSBE, Warren W., Be Diligent, 1987: p. 60.503 BARCLAY, William, Marcos, 1974: p. 157.504 POHL, Adolf, Evangelho de Marcos, 1998: 

Referências: Livro Marcos o evangelho dos milagre Hernandes Dias Lopes

  

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